José Ângelo Ferreira da Silva é o nosso entrevistado deste mês. Zé, como é conhecido por seus pares, atua em empresas públicas e privadas há 25 anos nas áreas de tecnologia e consultoria ambiental. Geólogo, com Mestrado em Geociência e Meio Ambiente pela Unesp e Doutorado em Recursos Minerais e Hidrogeologia pela USP, em pesquisas sempre envolvendo contaminação de solo e águas subterrâneas, atualmente é Líder Técnico na área de Investigação e Remediação da Tetra Tech na América do Sul.

 

Atualmente, quais são os principais desafios do gerenciamento de áreas contaminadas no Brasil?

Há inúmeros desafios no gerenciamento de áreas contaminadas atualmente e, abordando em nível estrutural, um dos mais relevantes está na falta da consolidação das informações, em quantidade e qualidade, sobre as áreas contaminadas existentes no país.

Em 2015, o Ministério do Meio Ambiente lançou o Plano Nacional de Implementação da Convenção de Estocolmo sobre POPs (Poluentes Orgânicos Persistentes) e produziu, no mesmo ano, o Inventário de Áreas Contaminadas por POPs, envolvendo, em nível nacional, instituições federais, estaduais e municipais de diferentes setores, além de associações e empresas privadas. Os resultados da pesquisa indicaram poucos dados disponíveis sobre as áreas contaminadas por POPs no Brasil, além de expor a ausência, na maioria dos estados, de uma sistematização de informações sobre esses contaminantes. Sob esse exemplo, é possível afirmar que, sem dúvida, é necessário o estabelecimento e consolidação de um cadastro nacional, integrando e compartilhando informações, visando à melhoria e eficiência da gestão de áreas contaminadas no país.

Apesar do Brasil possuir alguns estados com procedimentos e metodologias já bastante avançadas na identificação, gerenciamento e divulgação de informações sobre áreas contaminadas, como São Paulo e Minas Gerais, a realidade nacional ainda está muito além do ideal.

Outra questão desafiadora, igualmente relevante, envolve a necessidade de uma maior e mais eficaz capacitação dos órgãos ambientais, nos âmbitos federal, estadual e municipal, incluindo a presença de profissionais especializados no tema, que possam realizar, com conhecimento, uma gestão eficiente por meio de fiscalização e avaliação de processos. Como exemplo, vale citar que, até hoje, muitas disposições da Resolução CONAMA 420/2009, que trata especificamente sobre o tema, não são cumpridas, requerendo ações mais efetivas.

Desafiador também, e não menos importante, é a constante atualização da legislação e normativas sobre o tema, sempre que pertinente, alinhada às ações já desenvolvidas e em prática nos países que se encontram em estágio mais avançado na gestão de área contaminadas, como, por exemplo, de contaminantes emergentes, como os PFAs.

Como toda área tecnológica, a gestão de áreas contaminadas também em constante evolução, requer atenção às inovações que se apresentam frente à necessidade de soluções, por vezes complexas. E, nesse ponto, o desafio para nós, nas consultorias, está no acompanhamento de todos os movimentos do mercado, principalmente de fora, de países que já enfrentam os problemas que, no futuro (bem) próximo, serão os nossos.

Qual é a importância do Big Data em projetos de investigação e remediação ambiental?
Nos projetos de investigação e remediação ambiental, que inclui uma aplicação cada vez maior e incessante de recursos tecnológicos, temos um grande volume de dados para organizar, analisar e interpretar, provenientes de diversas fontes. A partir desses dados, precisamos, constantemente, extrair inúmeros resultados de forma criteriosa para a equalização de problemas, direcionando os resultados e conclusões dos nossos trabalhos às soluções mais assertivas e efetivas, além de aprimorar a apresentação dessas informações aos nossos clientes. Nesse contexto, como uma inovação, definimos a necessidade de estabelecer uma estratégia de Big Data, com a construção de um banco de dados, georreferenciado, aplicando o software EQuIS (Environmental Quality Information System), da EarthSoft, muito utilizado no mundo para gestão de dados ambientais.
Na sua opinião, como a remediação ambiental pode contribuir com as metas ESG (Governança Ambiental, Social e Corporativa)?
Entendendo que para as organizações as metas ESG são definitivamente os pilares de sua sustentabilidade, visto o seu alinhamento com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), as práticas ambientais, sociais e de governança são, atualmente, a sua maior realidade. Sem querer entrar nos detalhes de como os padrões ESG ditam as estratégias de sobrevivência corporativa, mas destacando a sua crescente visibilidade, principalmente em análises de riscos e em tomada de decisões para investimentos, o compromisso com a gestão de passivos ambientais, visando à sua mitigação e eliminação, também representa um dos fortes indicadores do desenvolvimento sustentável de uma organização.
Como sua experiência em revisões técnicas de relatórios, agrega nos projetos desenvolvidos pela Tetra Tech?
Apesar de já ter revisado muitos relatórios, hoje em dia, na equipe da Tetra Tech, temos profissionais extremamente experientes que muito contribuem para elevar o nível de qualidade dos trabalhos, detectando problemas que possam ter passado despercebidos. A revisão final é uma das etapas mais importantes de um projeto, pois é quando são feitos os ajustes e conferências finais, agregando também uma visão mais experiente frente à complexidade dos resultados.
Você é um viajante nato! Qual foi a viagem que mais marcou sua vida e por quê?
“Menos!”, mas sempre gostei de viajar. Comecei “mochilando” aos 16 anos e guardo até hoje as minhas 2 primeiras mochilas! Cravar uma só viagem, que tenha marcado, impossível. Vou citar aqui as 2 road trips mais longas que fiz, uma dirigindo até Ushuaia, na Terra do Fogo, sul da América do Sul, e a outra percorrendo a Nova Zelândia de ponta a ponta. Lugares incríveis, com belas paisagens e experiências inesquecíveis!