A entrevistada desse mês é mineira, mas ganhou o mundo atuando em projetos de meio ambiente no Brasil, Espanha, Peru e Alemanha. PhD em Ciências da Terra e Meio Ambiente pela Universidade Da Coruña/Espanha, Débora Lemos, já atuou em centenas de projetos de vegetação, florestas sustentáveis e ecologia de ecossistemas. Ela é também representante do Instituto Life, entidade que trata de assuntos referentes a certificação de biodiversidade.

Das etapas dos estudos de vegetação, qual é a que apresenta maior complexidade e por quê?
Cada estudo tem sua peculiaridade, mas dois me chamam mais a atenção: o primeiro é o monitoramento da vegetação que requer além do conhecimento botânico e identificação a nível científico das espécies, a realização do inventário, a medição dos parâmetros fitossociológicos e a realização do levantamento florístico de toda a área analisada para se conhecer a estrutura horizontal e vertical da floresta. Requer equipe experiente, capacitada, com identificadores botânicos específicos para angiospermas, briófitas, fungos, gimnospermas, samambaias e licófitas, enfim, todas as plantas que compõem a floresta.  O monitoramento consiste na repetição temporal das medições gerando informações para que conheçamos a dinâmica da floresta (ingresso de indivíduos e novas espécies, mortalidade), as causas e consequências de empreendimentos ou de fenômenos naturais. O sucesso do monitoramento está na assertividade das identificações, pois as espécies encontradas na primeira medição deverão ser as mesmas encontradas nas demais. Estes são estudos de longo prazo com mais de 10 anos, sendo a rotatividade da equipe um fator de desequilíbrio nas medições.
Já o segundo estudo está voltado a Etnobotânica, ramo que estuda plantas e suas conexões com o conhecimento tradicional de uma cultura local, comunidades tradicionais e pessoas. Os estudos buscam documentar os usos práticos da flora nos costumes destas comunidades onde são geralmente utilizados para alimentação – subsistência, artesanato, medicinal, rituais, construção e comércio. Quem nunca tomou um chá de camomila ou um suco de maracujá para se acalmar, não é mesmo? Os conhecimentos tradicionais nos remetem aos antepassados, à família. Estudar as plantas junto às comunidades tradicionais é estar junto deles para entender seus costumes e formas de uso. Como qualquer trabalho que envolva a botânica, o conhecimento do nome científico da planta se faz necessário e nem sempre é possível, por não termos acesso a todas plantas utilizadas. Nesse ponto, temos que respeitar a crença e costumes de cada comunidade tradicional. São trabalhos de longo prazo, que envolvem documentação específica junto a instituições governamentais. Uma vez tudo liberado, ainda há que se conseguir a confiança da comunidade para que o trabalho possa representar os fatos.
Os estudos de EIA/Licenciamento são rotineiros em empresas de consultoria. Na sua visão, qual é o diferencial da Tetra Tech América do Sul na execução desses serviços?
A Tetra Tech possui equipe diferenciada, multidisciplinar e coesa. A troca de experiências entre as áreas propiciada pela empresa e funcionários, transmite ao cliente a segurança que ele precisa para solucionar suas dificuldades. A equipe realiza com profissionalismo e dedicação os trabalhos contratados, que são por muitas vezes, disponibilizados a todos por meio do Fórum Técnico (evento interno que apresenta os projetos da Tetra Tech a todas/os colaboradoras/es). Essa troca, a abertura para implementar novas tecnologias e o engajamento da equipe faz com que a Tetra Tech seja uma das melhores empresas de consultoria da América do Sul.
Você possui uma imensa bagagem acadêmica. Como você consegue empregar esse conhecimento nos projetos da Tetra Tech?
Meus estudos me trouxeram o conhecimento das teorias e técnicas de trabalho, principalmente, àqueles voltados à vegetação. Esse conhecimento foi construído a partir de tentativas, “acertos e erros” que o tempo na academia nos permite. De certa forma, sempre busquei aprender com o intuito de repassar, não há sentido na vida se guardarmos todo conhecimento que aprendemos, para nós. O aprendizado não deve se fixar somente no que a academia tem, mas também no que a cultura e a vivência de trabalho em cada país podem nos proporcionar. Ao trabalhar na consultoria, não se pode errar ou se os erros existirem, temos que ser rápidos em solucionar. Assim, empregar todo o conhecimento de forma rápida e eficaz nos faz competentes a ponto de trazer soluções rápidas e eficientes para clientes.
A governança ambiental, social e corporativa (ESG) tornou-se um tema recorrente e fundamental no mundo corporativo. De que forma essa agenda tem impacto nos projetos que você atua?
A maioria dos projetos socioambientais os quais atuo estão atrelados ao atendimento à legislação ambiental, apesar de objetivarem à conservação do ambiente. O “pulo do gato” está em alguns projetos os quais os clientes saem do atendimento à legislação e buscam a integração da geração do valor econômico às preocupações com o meio ambiente, a sociedade, a sustentabilidade e a governança corporativa. As empresas que incorporam os padrões do ESG demonstram consciência sobre o seu papel enquanto empregadora e agente social e abrem caminho no mercado financeiro atual para novos investimentos. Nesse caso, ser representante do Instituto Life traz a visão de gestão ambiental que possibilita uma análise clara e objetiva da pressão, dos impactos (positivos e negativos), dos riscos, dependências e oportunidades na relação do negócio da empresa/cliente com a biodiversidade.
Seu trabalho exige longas jornadas em campo longe da família. Quais são as dicas para mulheres que vivem esse mesmo desafio: maternar e fazer trabalhos de campo?
Costumo dizer que é uma luta constante, pois filhos exigem dedicação, mas, busco equilibrar meus trabalhos não estando fora de casa por mais de 15 dias. Neste caso, o acolhimento da Tetra Tech foi essencial para mim e minha família, ao propiciar o trabalho home office. Em curtos momentos, meu filho Antônio (6 anos) me pega de surpresa em reuniões on-line trazendo alegria e descontração ao ambiente coorporativo, o que dependendo da reunião ajuda a quebrar a tensão do meio e a fluir de forma mais amigável. Ele entende a importância do trabalho que desenvolvo junto a Tetra Tech e, por vezes, tenta ajudar fechando a porta do escritório ou pedindo silêncio a quem vem me chamar. No período de trabalho, estou 100% focada nisso, mas ao término deste período, estou 100% focada em minha família, pois ambos merecem meu respeito e dedicação. Dicas… planejamento e dedicação… e conte com os possíveis erros de percurso.