Geofísico na Tetra Tech América do Sul e professor universitário, Claus Eikmeier destaca-se por sua relevância para a geofísica nacional. Na Tetra Tech, ele Lidera com Ciência por meio de sua atuação com métodos que envolvem modelagem e inversão de dados sísmicos, sismografia de engenharia, microssísmica entre outros.
Além de sua sólida formação acadêmica, incluindo mestrado em geofísica e doutorado em andamento em mecânica computacional na USP, Claus Eikmeier possui 17 anos de experiência.

 

Qual a sua visão sobre o uso da geofísica nos projetos de geotecnia da Tetra Tech? Sobre o sistema microssísmico, como a utilização dessa tecnologia contribui para diferenciar a Tetra Tech em seus serviços de monitoramento?

A geofísica utiliza, preponderantemente, métodos não invasivos (não destrutivos) para buscar informações dos materiais em subsuperfície com base em contrastes de propriedades físicas. Dessa forma, é gerado um menor impacto na área de estudo, devido a uma logística de campo mais simples, e torna-se possível um levantamento de informações de áreas mais extensas com um menor custo. Assim, a geofísica tem se consolidado como uma importante ferramenta em projetos de geotecnia.

Quando falamos de microssísmica, tanto convencional como interferométrica, nosso foco passa a ser o monitoramento de estruturas geológicas e geotécnicas. Após o rompimento das barragens de rejeito em Mariana/MG (2015) e Brumadinho/MG (2019), ficou evidente que novas tecnologias para o monitoramento desse tipo de estrutura seriam necessárias. Nesse contexto, a Tetra Tech foi a pioneira na utilização de sistemas microssísmicos para essa finalidade, se consagrando como uma referência nesse segmento no Brasil. A microssísmica interferométrica do ruído ambiente, por exemplo, nos fornece como a velocidade de propagação das ondas sísmicas está variando no meio ao longo do tempo. Essas velocidades estão diretamente relacionadas à rigidez do material, ou seja, da estrutura. Dessa forma, o sistema microssísmico consegue nos trazer informações importantes sobre a “saúde” da estrutura, com uma antecedência muitas vezes maior do que a de outros sistemas de monitoramento.

No contexto da modelagem sísmica, como a simulação computacional contribui para a análise preditiva em relação à estabilidade de barragens de rejeito e ao potencial de liquefação do rejeito? A modelagem sísmica pode ser realizada para outras estruturas geológicas ou geotécnicas?

Você já trouxe o termo chave na própria pergunta: “análise preditiva”. Na modelagem sísmica criamos no computador um “modelo de Terra”, que pode ser de uma mina, parte de uma mina, ou de qualquer estrutura geológica ou geotécnica, com o objetivo de analisarmos o seu comportamento quando submetido a determinadas condições. Especificamente na modelagem sísmica, que, no entanto, não é o único produto que a Tetra Tech oferece, estamos preocupados com vibrações sísmicas. Como exemplo, podemos citar um estudo no qual o alvo é uma barragem de rejeito quando submetida a vibrações originadas pela queda/escorregamento de uma grande porção de massa de um talude nas proximidades. Nesse tipo de estudo preditivo, torna-se possível respondermos se de fato as vibrações geradas irão causar algum impacto no reservatório e/ou na barragem, como liquefação do rejeito, por exemplo. Com essa resposta em mãos, medidas de correções adequadas podem ser tomadas para segurança das estruturas e, principalmente, das pessoas.

Como a técnica de inversão sísmica, ou inversão geofísica pensando em um contexto mais geral, tem sido aplicada de maneira eficaz nos projetos em que você participa? Existem avanços recentes ou abordagens específicas que a Tetra Tech tem adotado para aprimorar os resultados obtidos por meio dessa técnica?

Muitos métodos geofísicos utilizam o procedimento de inversão de dados e, dessa forma, sim, trabalhamos frequentemente com essa abordagem. De forma bastante resumida, o processo de inversão geofísica consiste no seguinte: primeiro criamos, com base em informações prévias, um “modelo de Terra” no computador; na sequência, realizamos um simulação de levantamento de dados no ambiente computacional igual ao que foi realizado na realidade, em campo;  depois comparamos os dados obtidos nas duas abordagens; por fim, se os dados forem bastante semelhantes, entende-se que o “modelo de Terra” utilizado no computador deve estar muito próximo ao do ambiente real, caso contrário ele é refinado até que isso ocorra.

Esse procedimento exige um sólido conhecimento das etapas envolvidas, suas implicações, bem como uma constante atualização dos avanços na fronteira da ciência. Felizmente, posso dizer que essas são características do nosso time e por isso temos orgulho de sempre entregar trabalhos de alta qualidade aos nossos clientes.

Como a Tetra Tech América do Sul se destaca na aplicação da geofísica para melhorar as operações das empresas de mineração? Poderia contar um pouco sobre como a experiência dos profissionais da sua equipe influencia as soluções inovadoras que oferecemos para os desafios do setor minerário?

Acho que no contexto dessa pergunta cabe ressaltar uma característica muito forte do que entregamos aos nossos clientes, e digo isso não só em relação ao time da geofísica, do qual faço parte, mas da Tetra Tech como um todo. Essa característica é a integração de dados e resultados. As soluções que nossos clientes buscam exigem muitas vezes profissionais de diferentes áreas, ou com diferentes conhecimentos dentro de uma mesma área. A Tetra Tech por ser uma empresa global de consultoria possui esse time diverso, o que possibilita essa integração que mencionei.

Um projeto desafiador, do qual participei recentemente, consistiu em uma análise preditiva de modelagem sísmica das vibrações que chegariam em uma barragem de rejeito a partir do rompimento de uma grande porção de massa de um talude próximo a essa barragem. No entanto, a modelagem sísmica em si foi só a parte final desse grande projeto. Tudo se iniciou com uma consolidação de muitos dados sobre a área e os alvos de estudo. Posteriormente, o time de geologia/geotecnia ficou responsável por estudar e estabelecer o plano de ruptura da massa do talude que, potencialmente, poderia romper. Na sequência, especialistas em mecânica de solos e rochas modelaram o rompimento dessa massa do talude, e só na última etapa, em posse dos dados do rompimento, realizamos a modelagem de propagação das ondas até os nossos alvos de estudo. Esse é um projeto que exemplifica bem a questão da integração de muitos dados e profissionais para alcançarmos uma resposta completa para o nosso cliente.

Como a sua jornada profissional te trouxe até aqui? De que forma o seu doutorado em mecânica computacional na USP tem impactado o seu trabalho?

Desde a minha primeira semana de graduação na USP eu dou aula. Eu comecei dando aula para alunos do ensino fundamental, médio e pré-vestibulandos e, posteriormente, também para alunos do ensino superior. Dar aula é também uma ótima forma de aprender. Eu acredito muito na ideia que, se você não consegue explicar algo com facilidade, é porque você não entende tão bem o que você acha que entende. Dando aula, isso fica muito evidente e te possibilita preencher lacunas de conhecimento que você não sabe que tem. Nessa jornada, eu acabei também me tornando um empreendedor, pois tive durante 10 anos uma empresa própria de aulas particulares. Paralelamente a isso, eu fiz minha graduação em geofísica, posteriormente o mestrado e agora estou finalizando o doutorado, ou seja, terminando um longo ciclo formal de aperfeiçoamento técnico. Digo “formal”, porque o informal não tem fim, não é mesmo?

No mestrado eu me especializei em um método cuja sigla é MASW (está relacionado com ondas de superfície), e no doutorado trabalho com modelagem e inversão de dados sísmicos. Pelo que já mencionei nas outras respostas, acho que fica evidente que eu trabalho com o que estudei, e isso me deixa muito feliz.

Hoje atuo como geofísico na Tetra Tech e como professor universitário na UniBH. Como meus (acho que cabe aqui “nossos”) pais já diziam, tudo que você aprende na vida uma hora pode ser útil. Na Tetra Tech, essa bagagem em diferentes áreas (ensino, pesquisa, empreendedorismo) me serve hoje de forma bastante positiva no mundo da consultoria, não só no que diz respeito à questão técnica, mas nos relacionamentos com os colegas de trabalho e clientes.