Osmar Costa é o nosso entrevistado do mês. Líder Técnico da área de Recursos Hídricos aplicados a Geotecnia e professor universitário, ele é mestre em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos e possui graduação em Matemática e Engenharia Civil. Osmar já atuou em centenas de projetos de recursos hídricos, geotecnia e gerenciamento de água para os mercados de mineração e infraestrutura.

Como as novas tecnologias em monitoramento remoto e análise de dados estão sendo aplicadas na gestão das águas em projetos de mineração?

Com o advento de sensores inteligentes para captura de dados, o monitoramento remoto de variáveis hidrometeorológicas se tornou protagonista da cena de gestão das águas em qualquer empreendimento, em específico na mineração. Esse monitoramento constitui, inclusive, uma etapa fundamental para suporte a vários instrumentos da Política Nacional de Recursos Hídricos.

Seus resultados viabilizam inúmeras operações e negócios, como, por exemplo, hidroenergia, agricultura, indústria e mineração. A conexão entre equipamentos permite que dados sejam enviados a servidores, traduzidos e disponibilizados para acesso, tudo de forma remota, automática e em tempo real, sem hiatos na informação coletada. Isto é interessante, pois a informação é obtida continuamente em uma escala temporal mais refinada, por assim dizer, descartando qualquer necessidade, por exemplo, de se ter de inferir propriedades de escala temporal para conhecimento do regime hidrometeorológico de uma região em nível diário ou subdiário.

No que concerne à análise de dados, todo arcabouço técnico atualmente existente acerca de Big Data, Data Science e Data Analytics alicerça essa etapa. Nesse sentido, a informação deve ser submetida, obrigatoriamente, às análises de completude (completeness) e consistência (consistency), a fim de pavimentar uma via de bom uso dos dados. A propósito, a literatura específica sobre o assunto oferece várias alternativas metodológicas para análises dessa natureza. Enfim, em suma, o monitoramento remoto e a análise de dados são hoje indispensáveis para projetos ligados a qualquer segmento da economia, tal como a mineração.

Qual é a sua percepção sobre as práticas adotadas pela Tetra Tech em relação à sustentabilidade nos projetos de recursos hídricos aplicados a geotecnia? Como você e a sua equipe garantem que os projetos sejam realizados de forma responsável e com o menor impacto ambiental possível?

Meio ambiente e desenvolvimento sustentável são pilares fundamentais nos projetos realizados pela Tetra Tech de maneira geral. Nós não permitimos que esses pilares passem despercebidos hora alguma. Fazemos projetos que têm como fulcro a minimização de impactos à natureza, garantindo máxima blindagem ao meio ambiente durante a implantação desses projetos, bem como nas suas fases de manutenção e fechamento. Nossos profissionais de Recursos Hídricos são formados e aprimorados nesse sentido, além do quê, a Tetra Tech possui profissionais com formação específica em Meio Ambiente e Sustentabilidade. Oportuniza-se sublinhar que esses últimos profissionais são sempre envolvidos nos projetos, os quais gravitam, obrigatoriamente, em torno de uma prerrogativa de trabalho cuja gênese se encontra gravada no DNA da nossa empresa, a integração entre áreas de conhecimento. Além disso, tal prerrogativa ajuda a moldar a cultura organizacional da Tetra Tech. Sem medir esforços, nos preocupamos com os mínimos detalhes no intuito de assegurar que os nossos projetos sejam realizados de forma responsável e com o menor impacto ambiental possível.

Quais são as tecnologias mais avançadas e eficazes disponíveis atualmente para o tratamento e disposição final dos resíduos provenientes do processo de descaracterização de barragens, visando minimizar os impactos ambientais e garantir a segurança da população e do meio ambiente? De que forma a Tetra Tech na América do Sul se diferencia de seus concorrentes nesses projetos?

Atualmente, falamos bastante sobre o reuso de rejeitos na mineração, o que, de fato, robustece ainda mais o nosso intento e empenho em garantir a segurança da população e do meio ambiente no que diz respeito a barragens. Ademais, uma consequência natural, intrínseca a esse processo, consiste em substituir despesa por receita nos negócios de mineração. Notoriamente, o desafio é grande, mas, com o advento acelerado de novas tecnologias, ele já vem sendo superado a contento. Há várias pesquisas sobre o tema e os avanços já podem ser sentidos. A depender de suas características, os rejeitos de mineração podem ser destinados a, por exemplo, siderúrgicas, construção civil e infraestrutura. Sendo assim, inspirado pelo lema da Tetra Tech, Liderando com Ciência, o nosso time vem se dedicando fortemente ao assunto, de modo a aperceber os nossos clientes de inovações tecnológicas para uma transformação nesse sentido. Isto seguramente diferencia a Tetra Tech no mercado de consultoria e projetos em mineração, e a consolida, ainda mais, como um nome de ponta para resolução de problemas ligados a barragens, mais especificamente à descaracterização dessas estruturas. Por fim, é válido sublinhar que, alternativamente, esses rejeitos podem ainda: (i) ser transferidos para cavas exauridas; e (ii) ser desaguados e dispostos em pilhas.

Com todo o seu conhecimento adquirido atuando como professor universitário e consultor técnico no mercado profissional, qual foi o maior desafio que você enfrentou? Qual o aprendizado mais importante você obteve após superar esse obstáculo?

Na verdade, estranho ou não, o maior desafio que eu já enfrentei na minha vida profissional ainda não foi superado. Não obstante, batalhar por ele me rende aprendizado continuamente. Fato é que a “Geohidrotecnia”, diferentemente do que as pessoas pensam, é uma ciência altamente inexata e, sendo assim, demanda uma tratativa mais ampla, com contornos mais abrangentes e a mente aberta. Por exemplo, não se deve impor a essa ciência, pelo menos a meu ver, qualquer ensejo dicotômico, haja vista que, quando isso acontece, expectativas irreais são geradas e delas decorrem um sentimento de frustração e impotência. De fato, o caráter binário é incoerente com a fenomenologia concernente à Geohidrotecnia. A despeito de qualquer contra-argumento, abordagens estatístico-probabilísticas podem ser muito úteis nesse sentido. Enfim, esse é um desafio com o qual eu lido todos os dias e no qual eu estou certo de que vou lograr êxito, mesmo que em longo prazo.

Você possui experiência internacional em países como Colômbia, Panamá, Angola e França. Qual foi o maior aprendizado dentre todos esses destinos? Como isso te influenciou em sua vida pessoal e profissional?

Devo confessar que ir ao continente africano foi um grande presente para mim. Em Angola, eu pude experimentar uma cultura que mudou a minha maneira de enxergar a vida. Trata-se de um povo dedicado, esforçado e engajado com as suas causas. Um povo que não esmorece e que tem como principal sentido a paz e o aprendizado, cotidianamente. Sinto-me agraciado por ter estado no continente africano. Claramente, não foi diferente no que tange aos outros países. O intercâmbio cultural, técnico e de experiências pessoais é sempre muito engrandecedor. Por exemplo, foi na Colômbia que fiz um grande amigo, o geotécnico Felipe Uribe, hoje colaborador da Tetra Tech. Enfim, todas essas experiências tecem a nossa história, moldam a nossa existência e permitem que nos tornemos seres humanos cada vez melhores. É isto o que importa!