A Entrevista com o Especialista abre 2021 com a participação do nosso colega Daniel Coelho, Geofísico e mestre em Geociências pela USP. Ele integra a equipe de Geofísica Aplicada da Tetra Tech América do Sul há quase 1 ano e meio. Apaixonado por tecnologia, Dani como é conhecido pelos mais próximos, é um especialista que se diferencia por suas habilidades comerciais e liderança.

Como a sismologia pode auxiliar na tomada de decisão dos projetos que envolvem gestão de risco de barragens?

A sismologia é uma área de estudo muito ampla. Dentro dela, para não se confundir com outras aplicações mais tradicionais dessa ciência, o time de Geofísica Aplicada da Tetra Tech nomeou uma linha de serviços de “Sismologia de Engenharia”, em que desenvolvemos projetos que se baseiam em dados de sismografia, microssísmica, estações de longo período e até mesmo de análise probabilística de ameaça sísmica.

A sismologia de engenharia tem como objetivo principal caracterizar as principais fontes sísmicas existentes em ambiente minerário, sendo algumas delas: desmontes; operações ferroviárias; funcionamento de veículos e máquinas pesadas; operações com helicóptero; funcionamento de usinas e plantas de beneficiamento.

Com essa caracterização, é possível estimar a amplitude das vibrações geradas em função da distância fonte-receptor e responder a questões fundamentais como, por exemplo, se desmontes realizados mesmo a alguns quilômetros de distância das barragens podem gerar vibrações que coloquem em risco essas estruturas geotécnicas.

Além da aplicabilidade da sismologia à área da mineração, de que forma essa ciência pode ser aplicada a outros mercados no Brasil?

A sismologia é uma das grandes áreas da geofísica e um vasto campo de produção científica principalmente relacionadas a estrutura interna da terra, crosta e litosfera. Além dos exemplos de aplicações para a mineração já citados, a sismologia aqui no Brasil também pode ser empregada em: estudos de sismicidade induzida por enchimento de reservatório; monitoramento de obras civis; sismicidade desencadeada por perfuração de poços; apoio na tomada de decisão na construção de grandes obras e estimativa de vibrações ocasionadas por explosão acidental ou rompimento de talude.

Qual é o maior diferencial da Tetra Tech América do Sul no desenvolvimento dos projetos de sismologia?

Nos grandes centros de estudo de sismologia existe a cultura de desenvolvimento das próprias ferramentas e soluções, por ser necessário trabalhar com grandes volumes de dados e desafios variados.

Na Tetra Tech América do Sul não é diferente, pois, devido as especificidades dos desafios dos nossos clientes, estamos migrando para ferramentas de código aberto e desenvolvendo as nossas próprias soluções.

Com o uso de LaTeX, automatizamos o nosso trabalho de confecção de relatórios; a partir de algoritmos Python, desenvolvemos produtos customizados para nossos clientes; com o QGIS e PostGIS, geramos todos os mapas e gerenciamos nossas bases de dados espaciais.

Sendo assim, nosso maior diferencial é a automatização do trabalho de forma eficiente, por meio da integração e aprimoramento dessas ferramentas de código aberto. Dessa forma, Liderando com Ciência, visamos prospectar novas oportunidades e continuar produzindo soluções arrojadas, conforme as necessidades dos nossos clientes e a cultura da sismologia.

Em 2018 você foi premiado pela Sociedade Brasileira de Geofísica (SBGf) por um trabalho desenvolvido na USP. Qual foi a temática desse projeto e qual foi a singularidade que propiciou o recebimento dessa honraria?

Em 2015, quando ainda era estagiário, fui apresentado a um problema resolvido pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) em que foi aplicado o método de magnetometria terrestre em uma área de difícil acesso onde uma escavadeira foi soterrada vitimando uma pessoa. A solução apresentada, ainda que tenha solucionado o problema, foi arriscada do ponto de vista de segurança.

Motivado por desenvolver uma solução mais segura e eficiente, juntei minhas economias de estagiário e importei da Alemanha alguns sensores capazes de medir o campo magnético terrestre. A partir deles, desenvolvi um pequeno protótipo de magnetômetro com Arduino e componentes microeletromecânicos.

A resolução do protótipo não era boa o suficiente para se comparar a um equipamento profissional, entretanto era muito mais leve e teve condições de, acoplado a um drone em voo, medir a anomalia magnética gerada pelas ferragens de um automóvel em um teste de campo, se assemelhando ao problema da escavadeira.

Este trabalho, com a temática de avaliar o potencial de aquisição de dados de magnetometria a partir de drones, foi apresentado como meu TCC em 2016 e rendeu 3 prêmios, sendo um deles o reconhecimento da SBGf como melhor TCC do biênio 2016-2018.

Recentemente, você abandonou o time dos solteiros. Como tem sido o desafio de conciliar os trabalhos de campo e a vida de casado?

Julia e eu nos casamos durante a pandemia, nesse novo normal com uma festa para apenas 30 pessoas. Ainda nesse cenário, nós dois estamos trabalhando de casa, e apesar de haver trabalhos de campo, eles são muito esporádicos (no máximo uns três dias por mês), dessa forma não tenho do que reclamar e a vida de casado tem sido ótima, com o privilégio de não precisar acordar tão cedo e poder almoçar com minha esposa todos os dias.