A entrevistada do mês de agosto é a nova gerente da Geotecnia. Com mais de 24 anos de experiência no setor de engenharia civil, mais especificamente na área de Engenharia geotécnica, Marilene Lopes assume esse novo desafio com a competência e leveza que lhes são peculiares.

Recentemente, Minas Gerais foi palco de rompimento de duas barragens que promoveram mudanças significativas na legislação e operação do setor minerário. Na sua opinião quais são os principais desafios que a área de geotecnia enfrenta atualmente?

Temos grandes desafios a vencer nos próximos anos. Muitos estudos técnicos têm sido desenvolvidos visando promover a evolução contínua na geotecnia, o que é comum e necessário em qualquer área. Essas evoluções visam ampliar o leque de ferramentas e soluções para situações geotécnicas mais complexas. Da mesma forma, muitos guias e diretrizes estão sendo publicados por organismos nacionais e internacionais muito conceituados, objetivando contribuir para essa evolução contínua também nas questões de Governança. Eu entendo que o maior desafio que a área já está enfrentando e irá enfrentar por longos anos é a formação de profissionais qualificados para atender a todas as demandas do mercado, considerando toda a responsabilidade e complexidade dos problemas a serem tratados. A área de Geotecnia, por mais que esteja dentro da engenharia, que em geral é vista como uma área exata, não é, em absoluto, uma ciência exata. A área trabalha com decisões de alto nível, associadas a julgamentos de engenharia. E para se ter um julgamento de engenharia sólido é muito importante a experiência dos profissionais envolvidos. Será muito importante que a comunidade técnica se organize para acelerar a curva de aprendizado das novas gerações de geotécnicos.

Você já liderou outros grupos multidisciplinares que atuaram em projetos de engenharia e gestão de risco. Na sua opinião qual é o maior diferencial do time de Geotecnia da Tetra Tech?

A Tetra Tech possui, na minha opinião, diversos diferenciais se comparada às nossas concorrentes. Primeiro, a existência de grupos com expertise em diversas disciplinas que precisam ser tratadas no contexto da elaboração de estudos e projetos de nossos clientes, como engenharia, meio ambiente, socioeconomia, geotecnologias, por exemplo, já contribui para a eficiência do cliente na gestão desses projetos multidisciplinares. Além disso, as equipes passam a ter uma visão mais sistêmica do projeto, conseguindo enxergar claramente as interfaces, o que permite otimizações importantíssimas e reduz falhas muito comuns quando essas interfaces não são bem gerenciadas. Por fim, a qualificação técnica dos profissionais, que já é altíssima pela própria formação dos profissionais das nossas equipes, fica extremamente ampliada com a convivência com profissionais experientes de diversas disciplinas, inclusive acelerando a curva de aprendizado dos profissionais mais jovens, já contribuindo para superar os desafios mencionados anteriormente.

O lema da Tetra Tech é Liderando com Ciência, de que forma seu conhecimento e experiência podem agregar o nosso slogan

Eu, particularmente, quando me deparei com essa marca me senti extremamente motivada para fazer parte do time. Eu já tinha a Tetra Tech como uma empresa de alto nível, mas fazer parte desse time, com o olhar voltado para desenvolvimentos conceituais e tecnológicos que visam provocar mudanças positivas e agregar valor à área de Geotecnia é realmente um privilégio. Na minha carreira eu sempre busquei trabalhar em áreas que fossem voltadas para esses desenvolvimentos. Aprendi muito e tive a oportunidade de participar de projetos inovadores e agregadores tanto na consultoria, em que a presença de organismos in internacionais como Banco Mundial e BID promovem essa cultura de desenvolvimento, quanto na Vale. Nos meus últimos 9 anos de carreira, quando trabalhei na Vale, minha área de atuação sempre foi Planejamento e Desenvolvimento. Um olhar sempre no futuro, com vistas a promover soluções inovadoras para os desafios da Geotecnia. Também participo da comunidade técnica de Geotecnia nacional e internacional há muitos anos e com isso trago também uma bagagem das evoluções identificadas como necessárias por essa comunidade. Nesse contexto, penso que minha experiência poderá agregar aos trabalhos da equipe trazendo o visão das necessidades dos nossos clientes e da comunidade técnica de Geotecnia, orientando os trabalhos das nossas equipes no sentido de se dedicar às soluções para os problemas reais, utilizando dos desenvolvimentos científicos com esse objetivo, que entendo ser o papel da consultoria.

Em 2017, você recebeu o reconhecimento da ABMS – Associação Brasileira de Mecânica dos Solos – Núcleo MG, sendo escolhida para o evento Mulheres Geotécnicas. Como foi receber esse reconhecimento atuando em um mercado tradicionalmente masculino?

Quando a ABMS/MG me convidou para ser a palestrante do evento Mulheres Geotécnicas daquele ano, eu fiquei bastante emocionada. Mas interessante que meu sentimento não esteve associado ao fato de ser mulher em um ambiente tradicionalmente masculino, mas sim pela valorização da engenharia geotécnica voltada para a área de mineração. A minha visão era de que a geotecnia de mineração tinha pouco espaço e pouca visibilidade no âmbito da comunidade técnica da ABMS e, ter a possibilidade de levar para um público tão seleto, os desafios da geotecnia nesse tipo de negócio, realmente me trouxe bastante satisfação. Temos muitos desafios na nossa área e poder dar visibilidade permite reforçar a necessidade das empresas de consultoria, das universidades e de toda a comunidade técnica se dedicarem a encontrar soluções de alto nível condizentes com a complexidade dos nossos problemas.

Um dos maiores desafios das mulheres é conciliar a vida profissional e a maternidade. Qual é o segredo para desempenhar os dois papeis de forma competente

Já ouvi por diversas vezes, de várias amigas, que nós mães trabalhadoras somos um poço de culpa. Para mim, o primeiro ponto a ser tratado é esse. Sei que não é fácil, mas temos que interiorizar que nossos filhos têm orgulho do nosso trabalho. Já presenciei muitas situações de olhinhos brilhando quando a criança fala em uma roda de conversa sobre o trabalho de sua mãe. Outro ponto importante é admitir que não seremos perfeitas em tudo que faremos como mãe e como profissional. Muitas vezes somos muito exigentes conosco e, em alguns momentos esse nível de exigência é desnecessário sob o olhar dos nossos filhos e até da própria empresa. E nós, como profissionais sérias e como mães amorosas que somos sabemos o ponto de equilíbrio, mas muitas vezes não conseguimos praticar os limites para esse equilíbrio. Penso que buscar uma ajuda, caso seja muito difícil fazer isso sozinha, é fundamental. Por fim, acho fundamental que as mães se organizem para evitar stress desnecessário. Criar uma rede de apoio para as atividades diárias torna a execução dos papéis de mãe e profissional muito mais fácil. Não precisamos tentar ser heroínas fazendo todas as atividades sozinhas. Seremos heroínas aos olhares dos nossos filhos se conseguirmos ficar bem quando estivermos com eles e seremos heroínas para nossas empresas se estivermos equilibradas para o trabalho diário, o que certamente refletirá na nossa performance.