Entrevista

Cristiane Rodrigues

Foto de Cristiane Rodrigues

A entrevistada desse mês é a Cristiane Rodrigues, gerente de projetos com ampla experiência na gestão de equipes multidisciplinares.

Dentre suas atividades profissionais, possui proficiência em gerenciamento de áreas contaminadas, estudos hidrogeológicos, licenciamentos ambientais, implantação e operação de sistema de remediação ambiental e due diligence.

Cristiane possui uma sólida formação acadêmica, com mestrado em Hidrogeologia pela Universidade de São Paulo (USP) e MBA em Gestão Econômica e Estratégica de Projetos pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Além disso, soma 22 anos de atuação profissional no campo de Investigação e Remediação Ambiental.

Question:

Quais são as principais técnicas/métodos que você e sua equipe utilizam para a investigação confirmatória e detalhada de áreas contaminadas, e como elas asseguram a qualidade dos serviços que a Tetra Tech América do Sul oferece?

A Tetra Tech América do Sul utiliza todas as técnicas disponíveis no mercado nacional e, quando elas não são suficientes, adaptamos o que há no mercado internacional com auxílio das equipes localizadas nos escritórios fora do Brasil. Assim, oferecemos aos nossos clientes soluções personalizadas de acordo com cada realidade, integrando experiência global e presença local.

Atualmente, oferecemos desde estudos simplificados de screening até estudos de alta resolução, passando pela amostragem discreta em todo o perfil de solo, amostragens passivas de vapores e água subterrânea, e uso de laboratórios móveis para obtenção de resultados em tempo real. Considerando que nem sempre é possível utilizar os mesmos métodos no mesmo cliente, avaliamos o uso de técnicas combinadas, o que permite a definição do modelo conceitual ideal para direcionar o gerenciamento de uma área contaminada.

Question:

Quais são os desafios técnicos e regulatórios mais críticos na gestão da contaminação por PFAS? E como a Tetra Tech está posicionada nesse setor?

Para o gerenciamento de contaminação por PFAs (substâncias per e polifluoroalquil, em português), o primeiro desafio é ter padrões de qualidade para as diferentes matrizes ambientais (solo, sedimento, água superficial e água subterrânea). Atualmente, por exemplo, estamos utilizando referências internacionais nos projetos que trabalhamos, como os da US EPA (Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos, em português). Outro desafio é o desenvolvimento de laboratórios para que as análises possam ser realizadas no Brasil com a mesma qualidade e limite de detecção que em outros países, alcançando, consequentemente, custos mais acessíveis. Devido às características físico-químicas deste grupo de compostos, o desenvolvimento de novas tecnologias para a remoção deles das matrizes ambientais, com o objetivo de alcançar melhores resultados, será um grande desafio para os próximos anos.

No meu entendimento, também seria importante a implementação de políticas públicas, tanto na esfera nacional quanto estadual, para que seja regulamentada a necessidade e avaliação da qualidade ambiental em relação aos PFAs. Infelizmente, as investigações ainda têm sido feitas mediante as solicitações dos órgãos ambientais e em casos muito específicos.

Neste cenário, vale ressaltar que a Tetra Tech possui em seu corpo técnico internacional grandes especialistas, com sólido conhecimento no comportamento e na remediação deste contaminante emergente. Os colaboradores da Tetra Tech América do Sul têm acesso às melhores práticas realizadas internacionalmente por meio do nosso líder técnico, Dr. José Angelo, que participa do grupo de trabalho que envolve os principais nomes neste assunto, e que nos atualiza com as discussões e recomendações para aplicarmos em nossos projetos.

Question:

Como a Tetra Tech América do Sul utiliza a modelagem matemática para o gerenciamento de áreas contaminadas?

A utilização de modelagem matemática vem sendo cada vez mais utilizada no gerenciamento de áreas contaminadas, e a Tetra Tech América do Sul utiliza diferentes softwares para propor soluções personalizadas conforme a expectativa de cada cliente. Temos em nosso time, especialistas que elaboram modelos geológicos, modelos conceituais de contaminação e plumas em 3D, o que gera um valor agregado muito grande para o cliente, pois facilita o entendimento de questões técnicas referentes ao cenário de contaminação a partir da uma visualização gráfica. Além disso, há modelos matemáticos de fluxo, que simulam o comportamento do contaminante para um certo período de tempo, o que se torna uma ferramenta imprescindível na tomada de decisão durante o gerenciamento de áreas contaminadas, já que é possível, por exemplo, prever um impacto a um receptor sensível e intervir de maneira a evitar um problema futuro maior.

Question:

Como sua expertise como gerente de projetos na Tetra Tech contribui para a integração de soluções técnicas e estratégias inovadoras, assegurando a eficiência operacional e a excelência na entrega de projetos ambientais complexos?

Os projetos relacionados ao gerenciamento de áreas contaminadas possuem variados fatores que influenciam na sua complexidade, e que vão desde requisitos de saúde e segurança de um cliente, até o prazo de execução do projeto em um tempo muito menor que o previsto. Para que possamos garantir a qualidade operacional e a excelência da entrega, é necessário um planejamento detalhado das atividades, o mapeamento dos pontos críticos, a seleção dos recursos adequados, a elaboração de cronogramas factíveis e o engajamento do time envolvido no projeto, de forma que todos tenham certeza de que a entrega do produto final é sinônimo do resultado do esforço de cada um. Considero também como aspecto fundamental um relacionamento transparente com o cliente para a compreensão dos pontos críticos e a definição de sua participação como agente facilitador durante a execução do projeto, sobretudo nas etapas de campo.

Question:

Como o fato de ser mulher em uma área tradicionalmente masculina, como a Geologia, influenciou sua carreira na área ambiental? E como você driblou esse desafio?

Quando iniciei minha carreira no início dos anos 2000 não havia a cultura que temos hoje sobre empoderamento feminino. No meu primeiro emprego, os chamados “recém-formados” tinham o mesmo salário, independente da formação ou do seu gênero, o que eu considero um privilégio para a época. No entanto, as dificuldades ocorriam nas atividades de campo, pois nem sempre havia banheiros/vestiários femininos nas áreas operacionais onde trabalhávamos, e as mulheres ouviam comentários que as calavam (atualmente esses comentários são tratados com o rigor das leis). Muitas vezes não éramos respeitadas por alguns clientes que gostavam de checar (com um homem) se a nossa recomendação era a mais adequada, e cito como exemplo uma situação que vivenciei: o dia em que um cliente me chamou para uma reunião, juntamente com minha gerente, e quando chegamos em seu escritório, ele nos pediu para que organizássemos e arquivássemos documentos físicos na sala dele. Tenho certeza de que ele não pediria esse “favor” se fôssemos homens. Olhando para trás, não sei se eu driblei o desafio de ser mulher em uma área tradicionalmente masculina. Eu acredito que conquistei o meu espaço com muito estudo e paciência, sendo que trabalho em um lugar em que posso ser respeitada pelas pessoas que convivo no ambiente profissional. Hoje, não tenho dúvida que as mulheres devem estar onde as decisões são tomadas.

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